Este primeiro mito é provavelmente o maior e mais influente, porque apóia uma inteira gama de idéias sobre como as bruxas modernas freqüentemente se vêm em relação ao passado místico e ao mundo exterior. Fred Lamond, que foi iniciado no coven St.Albans de Gardner em 1957, disse que o "O Tempo das Fogueiras (Burning Times) era um dos termos favoritos do ‘velho’ para a perseguição histórica das bruxas". É um termo que obviamente escapou do gueto Gardneriano ao longo do movimento neo-pagão e assim foi largamente usado nos anos 70. No contexto das idéias feministas radicais, que tiveram o princípio de seu movimento por volta desta mesma época, em especial nos Estados Unidos, o termo tomou um novo significado, no sentido da supressão feminina pelo patriarcado.
Este era um conceito que cabia perfeita e ordenadamente à opinião popular, por conter em si outro mito: que a perseguição das "bruxas" nas épocas históricas era algo de cunho patriarcal, uma conspiração misógina que assassinou nove milhões de mulheres na famosa caça às bruxas. Isso figurava favoravelmente (se é que podemos usar esta palavra neste contexto terrível) em comparação aos seis milhões de judeus exterminados pelos nazistas no holocausto do século XX, o que reforçou a mentalidade de vítima que caracterizou o feminismo e a Wicca há trinta anos. Este número de nove milhões aparenta ter sido originado por uma escritora feminista pioneira, uma americana chamada Jocelyn Gage, no Século XIX. No meio do século seguinte este número foi mencionado como um fato histórico por Cecil Williamson, fundador do Museu da Bruxaria na ilha de Man, que recebeu uma enorme publicidade nos artigos escritos nos anos 50. Este dado foi repetido infinitamente como um número factual e ainda continua aparecendo em livros recentes.
Enquanto o termo "Tempo das Fogueiras" é um tanto emotivo, ele realmente não é um reflexo real da natureza da punição tomados por aqueles que eram suspeitos ou condenados como bruxos. A queima em estaca era comum na Europa e na Escócia, onde a bruxaria era considerada uma heresia; mas na Inglaterra se alguém fosse considerado culpado por enfeitiçar uma pessoa à morte e a pena de morte fosse aplicada, esta pessoa seria enforcada. Queimar pessoas na pira era uma pena restrita aos casos de traição menor (petty treason), que ia desde uma mulher sendo considerada culpada por enfeitiçar seu marido à morte, ou pela traição real (real treason), onde o acusado era considerado culpado de tramar contra a família real usando magia.
O choro em coro "Never Again the Burnings" foi tomado por bruxas militantes feministas nos anos 70 e 80, que seguiam uma agenda política anti-masculina e aceitavam o número de nove milhões sem questionar. Recentemente novos estudos sobre a caça às bruxas revelaram que o número real das pessoas executadas por alegações de prática de bruxaria é provavelmente mais próximo de 50.000 a 100.000 pessoas.
Não somente isso, homens e crianças também morreram - assim como as mulheres , embora houvesse uma porcentagem mais elevada de vítimas do sexo feminino. A pesquisa nos registros sobreviventes dos julgamentos de bruxaria europeus e britânicos mostra também que estes eram freqüentemente produtos da sociedade, tensões políticas e religiosas (por exemplo: a maioria das perseguições às bruxas aconteceu em uma época pós-Reforma e em países protestantes) e foram freqüentemente perseguidas pelas autoridades seculares, e não pela igreja. Além disso, muitos dos acusadores de “bruxos” suspeitos foram outras mulheres, e estas acusações surgiam dentro do contexto de feudos vizinhos, rivalidades inter-familiares e inquietação social. Apesar destas descobertas, podemos encontrar, ainda nos dias de hoje, escritores repetindo o mito do "Tempo das Fogueiras", citando o número de nove milhões de bruxas executadas e reivindicando o fato de que as perseguições eram exclusivamente o resultado de uma visão mundial patriarcal. (Recomenda-se a leitura de The Witches Handbook, Sally Bowles, Godsfield Press 2002, como um exemplo recente).
http://geheimnis2.blogspot.com/2008/07/quem-controla-o-passado-controla-o.html