Qual a origem da bruxaria?
Que povo, que cultura plantou a semente da bruxaria e com que águas suas raízes foram regadas?
Localizar as raízes bruxas é essencial para a compreensão do próprio significado da bruxaria, mas a resposta para tais perguntas está escondida atrás de uma questão ainda mais polêmica: a prévia definição de bruxaria.
De que bruxaria estamos falando, de que bruxaria estamos buscando a origem?
A maioria dos leitores optará por definir bruxaria como um conjunto de crenças e práticas que teriam surgido na Europa durante a Idade Média, uma espécie de reciclagem de mitos pré-romanos, em parte como resposta à lacuna deixada após a queda do Império e, noutra, como o resgate da cultura anterior à dominação romana, a redescoberta das raízes culturais e da tradição local europeia.
Talvez este seja o melhor entendimento sob o ponto de vista histórico, e ele não nos levará muito longe do caminho que devo sugerir.
Todavia, cabe questionar a lógica de tal pensamento:
Se a bruxaria nasce como reconstrução de tradições pré-romanas, não seriam suas raízes, também, pré-romanas?
E se Roma é um subproduto da cultura helênica, não devemos apontar nossas investigações para o crescente fértil, que deu origem à própria cultura grega?
A pergunta é retórica, pois se a bruxaria tivesse surgido na Idade Média sem estar ligada a nenhuma tradição, se desenvolveria espontaneamente, o que significa que seus conhecimentos seriam de domínio público, assim como eram públicas as crenças judaicas, até que a Igreja interviesse, coibindo as crenças
pagãs. Mas o fato é que o saber bruxo sempre foi reservado a membros seletos de alguma organização ou linhagem, assim como o saber do xamã também sempre foi passado individual e criteriosamente, não em grupos e indistintamente como o fazem as religiões contemporâneas.
Evidencia-se, então, pelo simples raciocínio acima apresentado, que a Tradição Bruxa é anterior ao início da expansão de Roma, portanto, muito anterior à Idade Média.
Buscar as raízes bruxas é buscar as origens das primeiras culturas europeias.
Mas estamos falando de um momento em que a cultura não existia oficialmente na Europa, senão como uma combinação de traços das comunidades autóctones com as influências das civilizações do norte da África e do Oriente Médio.
Agora podemos retornar às indagações originais:
Qual a origem da bruxaria?
Que povo, que cultura plantou a semente da bruxaria e com que águas suas raízes foram regadas?
Posso afirmar que, nas tradições bruxas europeias que subsistiram até hoje desde tempos imemoriais, há conhecimentos específicos que foram criados pelos autóctones, reservados aos iniciados, mas a maior parte e talvez o corpo principal são derivados de uma série de influências dos povos do norte da África e do Oriente Médio sobre os autóctones. Conforme as fontes históricas de que dispomos, ao contrário do que ocorre hoje em dia, os povos da Europa
eram plenamente receptivos a influências estrangeiras. O que lhes viesse em auxílio, o que lhes fosse útil, seria muito bem recebido em sua cultura.
É um pouco difícil aceitar este fato vivendo na sociedade atual, mas o imperialismo cultural ao qual buscamos até certo ponto resistir parece ser um legado do cristianismo, haja vista que, mesmo em Roma, antes que o cristianismo fosse declarado religião oficial do Império, os povos conquistados tinham plena liberdade de culto e de expressão cultural, sendo observados, mas não inibidos, de agir conforme suas respectivas tradições.
Noutros locais, fora do alcance de Roma, os árabes praticamente destruíram a cultura persa por acomodação natural, não os tendo jamais subjugado; no Egito, mesmo sob a coroa de Akhenaton (Amenhotep IV), posteriormente intitulado o faraó maldito por declarar Aton como Deus único e absoluto, os templos de outros deuses continuaram abertos, muito embora, por motivos óbvios, os nobres tivessem deixado de contribuir para sua manutenção; ainda no Egito, em período diferente, mesmo o povo judeu, mantido em cativeiro, não era forçado a aceitar os Deuses egípcios.
Então, ouso dizer que a bruxaria foi plantada fora da Europa, no norte da África e no fundo (leste) do Mediterrâneo, e que aquilo que muitos acreditam ser "o saber dos povos do campo", na verdade é a tradição e vivência de mistérios muito mais antigos, cujas raízes devem ser buscadas ainda mais longe. Mas este é um tema cuja profundidade pede mais espaço.
Fiquemos, então, com este pensamento final:
Dizer que a bruxaria surgiu na Europa é como dizer que a macumba surgiu na Bahia.
A bruxaria é um tema recorrente nos estudos medievais e também nas épocas posteriores, onde a caça às bruxas atingiu seu auge. Além disso, ela desperta curiosidade por ter sido mantida viva até hoje em relatos e no imaginário popular.
Durante a Idade Média, as mulheres sofreram perseguições e foram acusadas de praticar bruxaria. Isto se deu a partir da normatização das condutas pregada pela Igreja Católica. A grande maioria dos condenados à morte foram mulheres que praticavam um saber empírico transmitido por gerações. Argumentos bíblicos eram usados para legitimar a inferioridade feminina, pois, segundo a Igreja, a mulher, como filha e herdeira de Eva, era fonte do Pecado Original e um instrumento do Diabo.
Este painel, é parte de um artigo produzido no semestre 2004.1, na disciplina de História Medieval, que procurou perceber o porque da imagem da Bruxa, cujos poderes/saberes estão associados ao demoníaco, perpetua até os dias atuais no imaginário popular. Objetivou-se com ele conhecer como surgiu a bruxaria através de cultos pagãos à fertilidade, tentando discutir quem eram as bruxas e como se deu sua ligação à maldade e à figura do Demônio, bem como tentar entender a chamada Demonologia dos poderes femininos.
Para analisar o conceito de bruxaria e buscar atingir os objetivos, utilizei como metodologia uma revisão bibliográfica, de certo modo restrita, pois o tema é bastante abrangente, o que possibilitou conhecer os cultos pagãos e as acusações de bruxaria como um artifício de uma sociedade que reprimiu o que era contraditório à seus preceitos.
Através desta pesquisa foi possível perceber que a Igreja Católica, durante a Idade Média, apropriou-se de alguns cultos pagãos em detrimento de outros que possuíam caráter sexual latente, como por exemplo, o culto à fertilidade, a partir do qual surgiu a bruxa como ser demoníaco. As mulheres acusadas eram aquelas que tinham o conhecimento das ervas e poções, parteiras, prostitutas, jovens belas e sábias anciãs. Enfim, caracterizava-se bruxa aquela que detinha certo poder na sociedade e que fugia dos padrões de comportamento estipulados pela sociedade patriarcal da época.
Adriano Larentes da Silva
http://anais.sepex.ufsc.br/anais_4/trabalhos/267.html
http://osbennu.ecn.br/artigo003.html